segunda-feira, 13 de abril de 2009

bruxaria tradicional PARTE 2

Tais são os meus pensamentos sobre essa questão e como tais eles são somente meus e, não menos do que isso, eles são os pensamentos de um homem que caminhou muitas vezes em volta do círculo do povo astuto. Para a questão "o que é Bruxaria Tradicional?" há tantas respostas úteis quanto há praticantes desta crença misteriosa. Não há uma resposta direta somente para tal indagação e é a maravilhosa diversidade de respostas possíveis que os genuínos praticantes oferecem que é, para mim, mais atraente.

O escopo de práticas e crenças que o nome "Bruxaria Tradicional" abrange é desconhecido e deve assim permanecer para sempre; e, todavia, se uma percepção dessa diversidade puder ser alcançada por um discurso, nós podemos então talvez intuir a natureza secreta que nos unifica a todos. Quando me refiro acima para "respostas úteis", eu quero dizer especificamente aquelas respostas que possam ser de uso e valor diretos para irmãos praticantes. Pois o espírito no qual esse discurso é entendido é aquele que possa ser de préstimo para cada um de nós todos para os quais a questão é endereçada. Contudo, existe um certo número de pessoas que pode prestar contas sobre a natureza da Bruxaria Tradicional.
Tais adeptos são, em verdade, poucos e discretos. Durante tempos recentes tem havido uma evidente mostra da superfície da Arte Antiga no domínio público da literatura publicada, livros e artigos. Esta atividade pública é o eco de um reerguimento interno de conhecimento. A florescência da Fé Antiga está tornando público a sua essência vital, fervendo os canais subterrâneos da prática mágica, subvertendo o seu poder para as veias que se entranham pela terra, alimentando e nutrindo a terra verdejante de Albion novamente. Pois nós que partilhamos do Mistério da Fé Antiga somos os guardiões da terra: nosso conhecimento é o arcano do seu coração e também do nosso. À este caminho nós devemos ser fiéis! A manifestação pública da Fé Antiga não tem aparecido de um modo uniforme, ao contrário, tem exibido uma variedade estimulante de formas. A estes vários canais da Tradição alguém pode se referir como "costumes" do Antigo Rito; cada um diferindo de acordo com o Mestre ou Mestra responsável pela distribuição do seu conhecimento.
Alguém poderia pensar que a existência da literatura pública disponível indicaria a tendência rumo um enfraquecimento - uma diluição - da essência espiritual da Tradição, mas este não tem sido o caso. De fato, exatamente o contrário é que é verdade: a direção é rumo a um alargamento e aprofundamento na riqueza espiritual da Fé Antiga.
A Arte Antiga está emergindo como um Caminho que possui uma amostra de aspectos diversos, estendendo-se da feitiçaria prática gerada no nível da magia popular - as artes dos homens de conhecimento e fascinadores - até o espectro de técnicas mágicas apreendidas, alcançando em apoteose as alturas de um genuíno misticismo.
Com o intuito de esclarecer esta diversidade é útil citar e dar um breve resumo de tradições exemplares e específicas que estão na vanguarda do nosso presente ressurgimento:
O Caminho dos Oito Ventos:
este é o ressurgimento Anglicano Oriental da Arte sem Nome exposto por Nigel Pennick. Essencialmente, representa uma escola específica de prática mágicka, derivada do caminho iniciático de "Sigaldry", uma tradição de conhecimento rúnico, incorporando tanto elementos pagãos quanto cristãos em uma síntese mágica coerente.
Seu modo de sucessão é, de acordo com Pennick, passado de mestre para discípulo e é perpetuado por transmissão de conhecimento tanto oral quanto escrito. É importante notar que no seu livro Secrets of East Anglican Magic, é feita uma referência à Antient Order of Bonesmen, à fraternidade mágica de cultuadores de cavalos e aos mistérios solitários dos homens e mulheres-sapos.
Estas são outras formas de práticas mágicas ainda operativas nas mesmas regiões e às quais podem ser referidas, em termos generalistas, como "Bruxaria Tradicional." Via Nocturna: a Convenção do Espírito da Caça.
Este é o caminho iniciático de ensinamentos da Sabedoria exposto por Nigel Aldcroft-Jackson, o Magista Janus ben Azazel. Seus ensinamentos são derivados de transmissões de conhecimento tanto orais quanto escritas e, no seu conjunto, constitui uma síntese de muitos diversos aspectos de tradições de bruxaria.
Em resumo, o núcleo central da Convenção é revelado dentro de um estado de gnosis mágica no qual o buscador se incumbe da peregrinação espiritual noturna para o Sabbat.
A Via Noturna é, portanto, o conclave invisível de iniciados reunidos através de uma paridade de experiências dentro de um transe extático.
Sua sabedoria é acessível para aqueles que passaram pelos portais transliminares deste mundo e os quais já empreenderam a noite-jornada iniciática para os reinos oníricos da orgia sabática.

Este caminho particular de Bruxaria Tradicional é notável em sua contribuição para o que pode ser chamado de "Misticismo Witânico", o corpus de conhecimento derivado diretamente da experiência gnóstica da formulae sabbática. Na sua contribuição para este campo de ação, a Convenção tem sido instrumental em extrapolar a essência mística interior dos ensinamentos de várias outras práticas da Arte, mais importante talvez do que aquelas do Clã de Tubal-Cain. O Clã de Tubal-Cain: esta é a Tradição de Prática da Bruxaria perpetuada pelo recentemente falecido Robert Cochrane.
De acordo com Cochrane, o Clã era o corpo de iniciados cujos mitos e métodos de prática oculta derivam das antigas bruxas nórdicas. É notável que os componentes da sua construção mítica mostram evidências da influência das últimas fontes daemonológicas medievais, especialmente em consideração aos Ensinamentos que concernem a descida dos Guardiões, o papel de Tubal-Cain e a reverência dada a ele como preceptor da genealogia iniciática, ou sangue bruxo.
A importância da contribuição do Clã para o desenvolvimento contínuo da Bruxaria Tradicional é evidenciado na influência criativa que foi trazida para conduzir para aqueles que foram diretamente envolvidos neste trabalho.
O maior pioneiro é Evan John Jones, que tem feito muito serviço para esclarecer vários aspectos dos Ensinamentos do Clã, especialmente aqueles que rodeiam as formas míticas do Castelo, da Caveira e da Rosa, e do Cabrito no Bosque Sagrado. Cultus Sabbati: este é o nome adotado por razões de comunicação e identidade entre diferentes grupos de iniciados em tradições de Bruxaria sem nome. Na sua presente forma, o Cultus é servido pelo autor desse tratado no papel de seu Presidente Magista. Como tal eu vou procurar descrever seu nome e função com a objetividade cabível.
O Cultus opera como veículo para a transmissão da Corrente Mágica Quitessencial e é ativo no ressurgimento da prática mágica referido em trasmissões orais, rituais e escritas como "A Feitiçaria do Caminho Tortuoso".
Dentro do Cultus várias práticas da Arte estão em operação concomitante; isto é refletido na estrutura dos seus grupos constituídos. Estes grupos incorporam o contexto de trabalho tanto de covens quanto de círculos menores de trabalho; a ênfase dos grupos se dá na autonomia de cada iniciado. Uma importante função do Cultus é servir como um mediador para a confluência dos seus forças mágicas de poder. Apesar deste campo de operação estar presentemente centralizado dentro do condado de Essex, o Cultus conhece um número de linhas iniciáticas trans-culturais de sucessão desde os arredores do país até além dele. Os ensinamentos de sabedoria centrais são passados adiante tanto oralmente quanto ritualmente, através da Feitiçaria Transcendental e da Gnosis dos Mistérios Sabbáticos. Estes são apenas quatro formas de expressão da Fé Antiga, mas a sua diversidade é o testamento da rica estrutura da Espiritualidade Mágica Britânica. A validade histórica destes quatro exemplos de "Bruxaria Tradicional" não é bem o meu encargo afirmar ou questionar, mas, por outro lado, o impulso criativo diáfano que eles geram são, para mim, a mais valiosa forma de autenticidade, independentemente de qualquer outra coisa.
Há uma impressão notável de insights e sincretismos criativos concedidos pelos trabalhos publicados sobre estes exemplos e isso serve para futuras "respostas" à minha questão inicial. É típico dos genuínos homens-de-conhecimento utilizar o que quer que esteja à mão e mudar o rumo de todas as influências, independentemente da sua procedência religiosa, para as causas secretas da Arte. É por isso, então, que a Arte Antiga adota para si mesma uma grande opção de atitudes e métodos, estendendo-se desde simples tópicos de feitiçaria até às mais altas formas cerimoniais de conjuração.
Em todos os contextos, qualquer um pode achar partes de crenças e conhecimentos mágicos de muitos tempos e lugares diversos, mas todos são achados para funcionar dentro da arena trans-histórica da dimensão sagrada, quer seja o círculo mágico da Bruxaria, quer seja o canteiro nônuplo de Sigaldry.
Desde as suas raízes na magia popular, em todos os seus muitos aspectos, a forma da Bruxaria Tradicional está continuamente se desenvolvendo e é neste respeito que alguém pode perceber as trajetórias em suas próprias possibilidades.
A paisagem espiritual da Arte está sendo moldada, através do poder da sua própria corrente, por uma potente estética de ecletismo mito-poético; a sua rica variedade de conhecimento ancestral está alcançando uma nova definição de forma, culminando no refinamento de uma profunda metafísica de êxtase: um verdadeiro ensinamento de sabedoria de gnosis mágica.
Isto pode ser visto como um desenvolvimento natural de um estágio de prática religiosa para um nível mais sofisticado, ou ainda - de um ponto de vista iniciático - pode-se perceber a emergência de um Misticismo Witânico através do oportuno desvelamento do conhecimento que tem sido o coração da Tradição. Pois assim como o fogo queima brilhantemente no centro do círculo, também nós e o círculo devemos girar eternamente ao redor do nosso eixo através das muitas estações do Tempo e Destino e através da dimensão sagrada da Arte, nós nos aproximamos mais do centro atemporal no meio da mudança do aeon e da hora. É possível que alguém perceba um desenvolvimento em direção às aparentemente abstratas alturas do pensamento místico que esteja ocorrendo em rejeição da simples herança do "bom povo de Elphame" que viveu antes de nós, mas não é assim. Na minha opinião e como exemplo, a meada da bruxaria - a corda atada - pode ser tanto para cura quanto para ferir e também para a tarefa mística de contemplar os estados da alma. O horizonte do círculo é sem limites e a extensão da nossa real iniciação é mensurada somente pela nossa própria auto-limitação dentro do seu limite infinito.
Para retornar à questão inicial deste discurso e para seguir outro caminho através do labirinto, deixe-nos considerar a B, deixe-nos considerar a ruxaria Tradicional, seus nomes e sua significância em discussões gerais sobre magia, e também os significados pelos quais o seu Caminho é perpetuado.
Em termos gerais e através deste artigo a "Bruxaria Tradicional" refere-se às práticas pagãs mágicas e religiosas que têm sido transmitidas desde pelo menos o começo do século vinte. Geograficamente, o termo implica à magia popular britânica do passado e contemporânea, mas pode se estender para abarcar crenças e práticas de proveniência européia, principalmente do norte da Europa.

A despeito da demarcação espacial assumida em razão deste discurso, a Fé Antiga possui formas inumeráveis e pode ser vista em muitas regiões da Terra. Além disso, as influências culturais que caracterizam formas antigas e modernas da Bruxaria Tradicional na Bretanha são muitas e diversas, caracterizando marcas de conhecimento que testemunham uma mescla de métodos iniciáticos provindos do mundo todo. Na literatura esotérica, histórica e antropológica da última metade do século XX, o termo Bruxaria Tradicional é geralmente usado para se referir às práticas de magia popular que antecedem, ou correm ao lado de, aos ressurgimentos modernos ou "reformados" da prática da Arte.

A forma moderna de Bruxaria é conhecida genericamente como "Wicca", apesar de se dever notar que muitas variações deste movimento modernos existem e são chamados por muitos outros termos. Em distinção à "Wicca", a Arte Antiga é referida pelos seus adeptos como 'Weikka'; este termo é freqüentemente na linguagem da Arte como 'Wytcha' - que dizem significar "A religião dos feiticeiros". Outras conexões e derivações úteis são as seguintes: da língua anglo-saxã wicce/wicca - 'witch', wiccian - "fazer um feitiço', witte - 'wise', wittan - "ser sábio'; do germânico antigo Wikkerie - 'Witchery'; do islandês vita - 'saber'; vikti 'um mago'; do sueco wika - 'dobrar, girar'; do norueguês vikja - 'desviar, desconjurar, exorcizar'; do anglo saxão wikken - 'tornar malévolo', hence wicked - 'ser malévolo' e também ser yfel - além das barreiras do consenso mortal de percepção. Muitas discussões são feitas sobre tais palavras e nomes; isto pode ser útil para o praticante desde que possa encorajá-lo a ver novas perspectivas sobre o caminho, mas quando isto não pode ser feito tais discussões são irrelevantes para aqueles engajados na prática da Arte.
As pessoas deveriam prestar atenção para o que é útil dentro do círculo e o que não é.
Certos escolásticos da academia convencional tem alegado que a palavra wicca era usada originalmente apenas em sentido pejorativo, ou seja, como um termo de abuso ou insulto contra qualquer desafeto ou suspeito de malefício ou magia negra, e ficou, de fato, fora de uso sob qualquer forma que fosse até o movimento da bruxaria moderna.
Apesar de tudo, pode-se citar o uso não-pejorativo de derivações conectadas tais como witan "saber" - em vários exemplos históricos. Entretanto, a despeito destas alegações, deve ser dito que a palavra derivada Wytcha esteve em uso durante o século vinte entre certos descendentes contemporâneos das tradições dos homens-de-conhecimento em Essex. Quer o termo tenha sido transmitido através de séculos de prática secreta ou retomado como um nome de identificação apenas no dia de ontem, é pertinente falar sobre algumas das razões para o seu uso atual. Da perspectiva do praticante, a adoção deste termo é um meio auto-consciente de expressar a sua identidade como pertencente aos Homens-de-Conhecimento, como "Aquele que Sabe", um portador do sangue bruxo e também como um iniciado na verdadeira tradição bruxa.
Além disso, sendo que wytch significa "curvar ou girar" é um termo apropriado em se considerando a natureza "tortuosa" do caminho dos feiticeiros. Se o uso pejorativo de wicca for aceito, então o uso presente do Wytcha também desse ser. O Homem da Arte move-se no limiar da sociedade; ele caminha dentro do mundo da Humanidade, mas na verdade está fora dele. Um caminho de culpa e da blasfêmia será apagado quando alguém se mover além dos parâmetros normativos da sociedade.

Além do mais, alguém poderia dizer que 'Wytcha' é simplesmente a pronúncia correta da palavra anglo-saxã wicca e que é usada auto-conscientemente por homens-de-sabedoria contemporâneos como uma reinvindicação deliberada de uma identidade única e distintiva dentro do espoco da religião mágica moderna. Tendo-se dito isso, é uma preferência costumeira de tais praticantes usar o termo "feiticeiro" e "feitiçaria" para si mesmo e para a sua Arte ou então, freqüentemente, não usar nome algum
. Outros epítetos em uso para os Práticas Ancestrais da Arte são, como mencionados acima, 'A Arte sem Nome', 'A Via Nocturna', 'A Arte Sabática', entre outros. Todos estes epítetos podem ser usados em discussões sobre magia para dar nome a "algo" que por natureza não tem nome: nomes são funcionais para propósitos de comunicação e auto-identidade. Uma vez que é útil definir e então distinguir os vários modos de Antiga Arte uns dos outros e das suas contrapartes modernas, deveria-se ter em mente que em certos momentos a Antiga Arte se fundiu ou adotou crenças de tais práticas reformadas. Dadas as inclinações naturais do praticante mágico em direção ao sincretismo, há uma constante fertilização cruzada entre aqueles que interagem entre si dentro e foma do círculo; conseqüentemente, nós todos emprestamos idéias uns dos outros. Entretanto, as várias formas de Wicca moderna não são o assunto em questão e ainda que elas tenham um papel importante na história e desenvolvimento da prática mágica no século vinte, o propósito desta dissertação investigar a natureza daquelas correntes da Arte cuja origem é de grande antigüidade. Pois dentro de tais correntes será encontrado um sincretismo que tem simplesmente sido operativo por um longo período e que é provável que tenha absorvido mais influências e que as tenha integrado dentro de um corpo de grande maturidade espiritual. A integração de influências wiccans modernas em correntes mágicas mais antigas é apenas um aspecto em desenvolvimento; há muitas outras influências nas práticas de Bruxaria Tradicional que também podem ser citadas. Ao se falar sobre tais integrações, eu preciso, por motivos de cortesia, dar todo o respeito àqueles praticantes da Arte Antiga que vêem as suas próprias práticas como puras e distintas. O fato de haver influências de outras fontes não é nenhuma mancha e nem é necessariamente um ato comprometimento; este fato pode ser uma parte consciente de uma espiritualidade criativa em andamento.


Dentro deste contexto do meu próprio caminho eu tenho tido contato direto com iniciados de outras tradições mágicas notáveis e tenho aprendido grandemente com tais interações. Tais contatos me conduziram a envolvimentos ativos dentro dos Caminhos de Uttar Kaula Tantrikas e, em um nível superficial, dentro da Tradição Sufi de Ovaysiyya. Este envolvimento tem servido apenas para enriquecer o meu trabalho dentro dos Conclaves dos Mistérios Sabáticos.

Tanto através do Cultus Sabbati e como praticantes independentes, eu e outros iniciados na Tradição dos Homens-de-Conhecimento de Essex temos procurado conexões iniciáticas transculturais e através de tais esforços muitas influências importantes tem servido para sustentar o reerguimento contemporâneo da nossa prática. Uma consideração mais profunda de tais influências podem ser deixadas para outra ocasião. Fundamentalmente, este é o motivo que fundamenta os propósitos de tal interação a qual, para mim, distingue as várias correntes da arte. Em Crença, todos nós somos guiados por motivações aparentemente similares, mas no meio Prole de Cain há uma metodologia diferente de crença que surgiu da disposição natural rumo a uma mentalidade feiticeira. Não é por nada que nós temos sido chamados de "Homens-de-Conhecimento!" Quando se fala em Bruxaria Tradicional faz-se freqüentemente muitas menções a ela sendo deixada como legado ou sendo passada adiante. O que se entende por essas duas frases diferentes? Da minha própria experiência como iniciado e iniciador dentro da Sabbatic Cultus, eu posso contar muitas maneiras pelas quais a Tradição é transmitida de uma pessoa a outra de geração a geração. A maneira mais óbvia é a transmissão oral: a palavra falada. Este é o "conhecimento passado de boca para ouvido" que é relatado de um praticante para outro, seja de Mestre para aprendiz, seja como conhecimento dividido em discussões entre contemporâneo de um círculo ou clã. Freqüentemente, é neste contexto que os mais preciosos fragmentos dos ensinamentos são preservados e é ao redor dessa sabedoria não-escrita que existe uma certa aura de tabu. Por serem intraduzíveis para a palavra escrita, os ensinamentos orais da Arte existem no reino entre o Pensamento e o Texto; eles habitam com os espíritos nos reinos movediços da memória e da lembrança. Quando deveriam tais ensinamentos serem escritos? - esta é uma questão que eu tenho feito a mim mesmo. Em resposta, eu concluo que alguém deveria escrever tais coisas quando há o perigo de eles serem perdidos ou esquecidos. Apesar de tudo, eu acredito que nada é realmente esquecido sobre a Arte, pois dentro do seu próprio domínio - o Círculo - os espíritos irão falar àqueles com ouvidos para escutar. É de boca em boca que o verdadeiro e invisível grimoire dos Homens-de-sabedoria é transmitido através das eras; é um livro cujas folhas foram espalhadas por várias mãos e que mesmo assim são costuradas sob uma mesma capa de pele e sangue.
Em alguns casos, a transmissão oral da tradição é executada no contexto formal de instrução. É nestes casos que o modo falado de trasmissão é operativo dentro do contexto especialisado da iniciação cerimonial. Isto nos leva à mais importante maneira pela qual a Tradição é deixada como um legado: a genealogia do poder espiritual transmitida ritualmente. Este é um assunto complexo devido à variedade de procedimentos envolvidos, mas, basicamente, o processo ao qual estou me referindo é o cumprimento da indução iniciática de um aspirirante através de um ritual conhecido por "transmitindo o poder".

Este é o ato mágico aonde todo o poder da Tradição é transmitido diretamente do Iniciador para o seu (a sua) discípulo(a), de Mestre para aprendiz. Dentro das várias corporações da Arte, e também dentro de fraternidades afiliadas à Ordens Franco-maçônicas (ou delas derivadas), o ato de "transmissão" é feito assim: o aspirante se abaixa, sustentando-se em um joelho, ante o iniciador, com o joelho esquerdo tocando diretamente o chão e a perna direita formando um quadrado com a terra.

O candidato segura em ambas as mãos o grimório ou Livro Sagrado da(o) Ordem/Coven. O iniciador em seguida coloca a sua mão direita sobre a cabeça do candidato e a sua mão esquerda sobre os seus pés direitos, formando um grande quadrado. O iniciador então "intenta" todo o poder da Tradição para dentro do corpo receptivo do candidato. Este ato, executado em muitas variações do modo citado, é feito para "selar" o processo de aprendizado pelo qual o candidato passou. O processo de aprendizado dura diferentes períodos de tempo e é construído de acordo com aquele que está sendo ensinado. Na Tradição Sabbática, o processo de aprendizado é dividido em duas partes.

Primeiramente, um período probacionista de nove meses é levado adiante, durante o qual o aspirante é simplesmente avaliado por vários requisitos de caráter. Quando isto se completa, o aspirante é convidado a fazer um ritual de dedicação; este rito os declara ao caminho da Tradição e começa a fase formal de instrução que dura um ano e um dia. Durante o ano iniciático, o candidato é literalmente guiado ao redor do círculo em uma completa viagem de mente, corpo e espírito.

No cumprimento deste circuito, ocorre o rito formal de iniciação, o aspecto central daquilo que é o ato anteriormente mencionado de "transmissão". O ato de "selar" o processo de instrução efetivamente cria a posição verdadeiramente autônoma do novo iniciado. Pois dentro do ato de transmissão todo o conhecimento da Tradição flui dentro do candidato em um estado de transmissão gnóstica. É então da sua responsabilidade recordar-se da Tradição de acordo com a sua própria predileção. Notar-se-á por aqueles que passaram por este tipo de transmissão que há muitas variações da sua execução; todas essas variações são igualmente válidas, pois é a significância iniciática codificada dentro dos gestos rituais que é de importância única. Uma terceira forma de "transmissão" é a transmissão textual dos ensinamentos; isto é de alguma forma parecido com a maneira de perpetuação dos shastras ou versos da escritura sagrada no Tantrismo.

Na Arte, há alguns livros manuscritos ou grimórios da Arte, os quais são passados de um iniciado para outro. Tais livros são os repositórios dos ensinamentos que pertencem a correntes ou práticas específicas. Estes tomos são conhecidos por vários nomes: O Celeiro Secreto; a Bíblia do Homem de Osso; a Plantação do Demônio; O Livro do Dragão e outros. Ao lado destes grimórios está o "Livro de Sombras", o nome genérico para um livro de práticas wiccan escrito à mão. Este nome tem sido, em alguns casos, adotados por certos membros da Antiga Arte; a sua ressonância poética é em geral a principal razão para que isso aconteça. Em algumas formas da Arte, cada candidato deve fazer a sua própria cópia manuscrita do livro do seu Mestre, pois o livro da Arte de cada membro é queimado após a sua morte. A natureza essencial de todos estes textos é a de que eles são coleções pessoais de conhecimento mágico acumulado através da experiência direta e compreensão da Arte. É assim que o seu conteúdo é a única preservação dos seus donos; este é com razão o seu tabu natural.

O Círculo da Arte é lançado em muitos níveis e, acima de tudo, deve ser lançado sem falhas. Similar ao modo de transmissão textual é a entrega de artefatos mágicos. Por exemplo, presentear o aprendiz com o bastão do Mestre é uma forma deste costume na Bruxaria em Essex. Isto estabelece uma ligação entre os iniciados de gerações sucessivas e dá a esses objetos uma aura espiritual própria. Tais objetos freqüentemente têm nomes que confirmam a crença de que eles vieram da moradia de um espírito.

Vale a pena mencionar que a transmissão de conhecimento mágico pode ocorrer somente por intermédio de tais objetos. Isto por causa da sua natureza talismânica e também porque o seu aspecto podem codificar certos arcanos através de marcas de Sigaldry. Da perspectiva de um iniciado, eu acredito que um objeto mágico pode conduzir conhecimento através da atividade do espírito que mora dentro dele. Esta forma de transmissão pode operar independentemente de qualquer outro meio e pode ser uma ponte sobre a divisão de tempo e espaço. Uma pessoa pode, por exemplo, obter um velho cristal em uma loja de antigüidades ou uma imagem entalhada em madeira de uma fonte tribal estrangeira, tal como a África Ocidental. Trabalhar cautelosamente com tal objeto permite que o iniciado se ocupar com o espírito que nele reside e tirar dele, em transes ou sonhos, uma grande sabedoria sem qualquer contato físico com os seus portadores anteriores. Tal método de trabalho pode trazer novas influências para as práticas do iniciado em Bruxaria Tradicional e pode ativar um estrato profundo de uma sabedoria ancestral que permaneceu adormecida dentro tanto do círculo quando corpo. Ainda que um objeto carregado magicamente obviamente partilhe do plano material, ele pode servir como um conduíte para a transmissão de energias do tipo mais sutis e intangíveis.

A doação de artefatos mágicos é ela mesma um potente meio de continuação e acumulação de conhecimento mágico e poder. Isto pode ocorrer através da aparentemente acidental aquisição de conhecimento e poder, no contexto formal de um ritual de iniciação, ou pode até mesmo parte de uma herança familiar. Esta última forma pode se operar através do parentesmo iniciátio de descendência espiritual e/ou através da linhagem genealógica de uma tradição hereditária. Isto nos leva à próxima forma de "transmissão": Bruxaria Hereditária e Tradições Mágicas Familiares.
Este tipo de transmissão ocorre dentro do contexto de descendência familiar: o conhecimentos, os costumes e/ou as posses mágicas de uma crença pagã mágico-religiosa preservada dentro dos limites de um grupo fechado e familiar. Tais formas de crenças podem variar grandemente de uma família a outra. Exemplos com os quais eu estou familiarizado abrangem de tradições de feitiçaria americana até a fé britânica cristo-pagã (às vezes chamada de fé dupla) no que concerne ao poder dos santos como guias espirituais. Tais crenças podem ser citadas como pertencentes, embora não exclusivamente, às Tradições Hereditárias; pois elas podem ser encontradas se dividindo e tornando-se operativas dentro de outras correntes. Eu tenho autorização de relatar, a partir de um contato pessoal, um exemplo em que uma família preservou um interesse em assuntos mágicos e ocultistas ao ponto de coletar material de fontes clássicas, que poderiam ser úteis em conjurações aos deuses antigos.
Quando a filha da família tornou-se envolvida com a bruxaria moderna, ela então começou a usar o material passado para ela.
A sua magia familiar, ou como quer que queiram chamá-la, tornou-se operativa fora dos seus parâmetros originais. Através de subseqüentes gerações iniciáticas tais materiais mágicos "hereditários" integraram-se com outras práticas e se desenvolveram em sua própria corrente de sucessão. Este exemplo contém elementos tanto de descendência familiar quanto de sucessão iniciática ritual; e como tal, deve ser considerada como uma parte distinta da Bruxaria Tradicional, pelo seu próprio direito. O modo pelo qual as Tradições Hereditárias são perpetuadas varia de família para família e pode ser passada para as próximas gerações usando-se alguns dos caminhos citados previamente. Tradições Familiares são uma raridade e podem ser altamente secretas. Em alguns casos, eles não desejam ser vistas como parte de outras formas de paganismo e práticas mágicas, ou mesmo ter qualquer conexão com elas. Isto deve ser respeitado como uma faceta intrínseca do seu caminho, e apesar de tudo, estas sobrevivências de crenças pagãs são parte da essência espiritual que ressuscita a Fé Antiga. Em exemplos aonde a Tradição Familiar interage com Praticantes da Arte de fora da família, pode haver um enriquecimento mútuo de conhecimento prático e uma garantia de que a sabedoria antiga sobreviva com integridade. Esta interação deve, portanto, ser elogiada. Ao lado dos caminhos descritos previamente pelos quais a Tradição é transmitida, há outros caminhos de transmissão, tais como aquelas que pertencem ao reino sutil. O meio principal é o da indução onírica. É neste ponto que eu devo cessar de escrever sobre magia e começar a escrever através da magia. Seria tolice persistir em discutir contextos sem conteúdo: o Místico não precisa expressar a revelação do seu coração em outros termos que não aqueles da línguagem do seu coração e nem o artista deveria desperdiçar tempo demais construindo as molduras das suas pinturas e deixar de pintar o seu quadro. Tradutores e emolduradores é que devem fazer estes trabalhos! Há um tipo de feitiço o qual eu devo relatar e por ele procurar convidar o leitor, independentemente da sua disposição, a caminhar para fora e depois para dentro dos mistérios sobre os quais ele está lendo. Para este feito da Arte um cordão de couro e uma pedra-de-bruxa são necessários; a pedra-de-bruxa é uma pedra que tem um furo no meio, surgido naturalmente: um portal gravado pelas mãos da terra e encantado para abrir os idiomas dos rios. Ao obter uma pedra-de-bruxa, a pessoa deveria contemplar a sua abertura e rogar para que ela seja uma entrada para a sua ação em sonhos. Então, a pessoa deveria pegar o cordão de couro e, segurando-o em suas mãos, deveria imaginar os caminhos da procissão mágica noturna. Considere os espíritos. Pense sobre Aquela que voa de fora do corpo para a liberdade da sombria meia-noite. Suba com os espíritos através das aberturas da carne; separe-se da sua moradia mortal e vagueie pelos reinos espirituais com a companhia invisível do ar. Ande sobre o vento e deite-se nos braços do céu. Ouça a sonora batida de asas de um passarinho e das asas do espírito; ouça o ritmo do seu vôo ocoando as palavras de encantamento, enfeitando os planos noturnos com sigilos de desejos esquecidos. Contemple os portais para o Outro Mundo: vislumbram-se silhuetas contra a abóbada das estrelas. Esteja de acordo com elas; esteja de acordo com o seu anfitrião do céu que vagueia pela noite. Deixe a brisa do rio estelar vivificar a sua alma e guiá-lo pelo rastro do caminho intransitável.
Ouça a batida das asas do espírito e sinta a batida do seu coração; ouça a batida do coração e conte os seus passos até a dança sem limites do deus, homem e fera. Contemple os participantes da dança circular. Contemple!
Em cada ambiente pungente de fantasia, dê um nó no cordão e então crie um rosário de sonhos potenciais.

Quando o cordão tiver sete nós, passe-o pelo furo da pedra-de-bruxa e dê um nó de gravata nele para formar um laço pelo qual uma pessoa possa passar a mão. Deve-se rogar à pedra e ao cordão com uma prece final, pedindo que o feitiço funcione. Então, ao final do dia, a pedra deve ser segurada em uma mão (geralmente, na mão menos usada) e o cordão, preso no pulso. A pedra deve segurada na mão como uma criança no seu berço. Então eu diria para você esquecer do feitiço até a manhã seguinte.

Possivelmente, em sonhos, o seu espírito irá passar pela abertura da pedra e vagar pela processão dos andarilhos da noite, que voam livremente ao lugar que algum chamam de "Sabbat". Aonde quer que os seus sonhos te leve, o cordão deve guiá-lo e trazê-lo de volta para casa, para acordá-lo quando começar o dia.

Se nenhum sonho sobrevir a você à noite, então relembre do momento em que você fez

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